Parashat Lech Lecha
- Rabino Jacques Cukierkorn
- 3 de nov.
- 3 min de leitura

Shabat shalom.
Nesta semana lemos a Parashá Lech Lecha, onde Deus diz a Avram:
לֶךְ־לְךָ מֵאַרְצְךָ וּמִמּוֹלַדְתְּךָ וּמִבֵּית אָבִיךָ אֶל־הָאָרֶץ אֲשֶׁר אַרְאֶךָּ“
Vai-te de tua terra, de tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei.”(Gênesis 12:1)
Este é o grande momento de viagem na estrada judaica. Avram não recebe um mapa.
Sem GPS.
Sem Waze.
Deus nem sequer diz “siga para o sul e pare no posto Buc-ee’s.”
Toda a instrução é: “Lech lecha — vai.”
Tenho quase certeza de que, se a Torá tivesse legendas, Sarai diria: “Avram, você pegou as estacas da tenda? Da última vez que vagamos, dormimos debaixo de um camelo.”
O que significa Lech Lecha?
“Lech lecha” significa literalmente:
Vai-te
Vai para ti mesmo
Ou (segundo todo terapeuta do mundo):“Você já tentou sair de casa?”
Deus está dizendo:
Você não se torna quem é permanecendo onde sempre esteve.
O judaísmo ensina:
A identidade não é encontrada — é forjada ao longo da jornada.
Um cruzamento surpreendente: Lech Lecha e o Día de los Muertos
Neste ano, o nosso Shabat coincide com o Día de los Muertos — o Dia dos Mortos.
As pessoas costumam pensar que o Día de los Muertos é o Halloween do México. Não é.
O Halloween diz: “Fantasmas são assustadores!”
O Día de los Muertos diz: “Vovô, fiz seus tamales preferidos; venha visitar.”
Em vez de medo, há memória, cor, amor, comida e história.
As famílias montam uma ofrenda — um altar de lembrança — com fotos, velas e comida.
E, de repente, a jornada de Avram faz mais sentido.
Quando Deus envia Avram embora, não diz: “esqueça o seu passado.”
Deus diz:
כִּי־לְךָ אֶתֵּן אֶת־הָאָרֶץ הַזֹּאת“
A ti darei esta terra.”(Gênesis 12:7)
Mas mais tarde, Deus se apresenta não pela geografia, mas pela genealogia:
אֱלֹהֵי אַבְרָהָם אֱלֹהֵי
יִצְחָק וֵאלֹהֵי יַעֲקֹב“
O Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó.”(Êxodo 3:6)
A mensagem do judaísmo é clara:
Avançamos levando nossos ancestrais conosco.
Día de los Muertos e a tradição judaica
Día de los Muertos:
As famílias lembram seus entes queridos celebrando sua vida.
Judaísmo:Fazemos o mesmo.
Dizemos Yizkor.
Acendemos uma vela de Yahrzeit (יַרְצַיִט).
Colocamos pedras sobre os túmulos — simbolizando permanência e presença.
נֵר יְיָ נִשְׁמַת אָדָם“
A alma humana é a luz de Deus.”(Provérbios 20:27)
Para ambas as culturas, a memória é sagrada.
Um dos ensinamentos centrais do Día de los Muertos é:
“Os mortos vivem enquanto nós os lembramos.”
Uma versão judaica desse ensinamento aparece no Talmud:
צַדִּיקִים בְּמִיתָתָם קְרוּיִים חַיִּים“
Os justos, mesmo na morte, são chamados vivos.”(Berakhot 18a)
Ambas as tradições afirmam:
O amor não termina quando o coração para de bater.
E sejamos honestos — se os judeus tivessem uma oferenda, ela incluiria:
Uma foto da vovó,
Um kugel,
E um bilhete passivo-agressivo: “Espero que goste. Usei margarina porque a manteiga te deixava estufado.”
Como avançar sem esquecer o passado?
Um mestre hassídico, o rabino Simchá Bunim, ensinou: Guarde dois pedaços de papel nos bolsos.
Um diz: בִּשְׁבִילִי נִבְרָא הָעוֹלָם
“Por minha causa o mundo foi criado.”
O outro diz: אָנֹכִי עָפָר וָאֵפֶר
“Sou apenas pó e cinzas.”
Significado:
Um bolso te lembra que você importa.
O outro te lembra que você faz parte de algo muito maior.
Lech Lecha nos impulsiona para frente.
O Día de los Muertos nos enraíza na memória.
Juntos, ensinam: Torne-se quem você foi chamado a ser — honrando quem te ajudou a chegar até aqui.
Uma bênção
Ao celebrarmos o Shabat, Lech Lecha e o Día de los Muertos:
Pense em alguém que moldou sua vida. Diga seu nome em seu coração.
Pergunte a si mesmo para onde você está sendo chamado a ir. Que “terra que Eu te mostrarei” te espera?
Que possamos seguir como Abraão —com coragem, curiosidade e talvez uma estaca de tenda extra.
Que aqueles de quem nos lembramos abençoem nossos passos, e que nossos passos honrem sua memória.
Shabat shalom — e feliz Día de los Muertos.
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