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Resenha do Livro “Movimentos & Seitas Judaicas”

Foto do escritor: Charton Baggio ScheneiderCharton Baggio Scheneider


O livro aborda desde os judeus ashkenazim, sefardim e mizrahim, até as correntes contemporâneas, como o judaísmo reformista, ortodoxo, conservador, reconstrucionista e os movimentos hassídicos. O livro também apresenta as particularidades dos karaitas, movimentos menores e as contribuições místicas da Cabala. Assim, ele oferece uma visão panorâmica e detalhada sobre o pluralismo dentro da tradição judaica.

O conteúdo é introduzido a cerca dos ashkenazim, judeus de origem europeia, detalhando suas características culturais, linguísticas e históricas. O autor explora a evolução dessa comunidade, que enfrentou perseguições na Europa medieval, incluindo os pogroms e o Holocausto, mas manteve sua resiliência e tradições.

Na sequência, são apresentados os sefardim, judeus descendentes da Península Ibérica. O autor destaca a “Era de Ouro” da cultura judaica durante o domínio muçulmano na Espanha, quando filósofos, cientistas e poetas judeus desempenharam um papel importante no cenário cultural. Contudo, a expulsão de 1492, a Inquisição e as diásporas resultantes são discutidas em detalhes, mostrando o impacto dessas tragédias na dispersão das comunidades sefarditas pela Europa, África do Norte e Oriente Médio.

Um ponto relevante é a análise da preservação da língua ladina e das práticas religiosas sefarditas, que, apesar das adversidades, mantêm sua identidade vibrante. O autor faz uma conexão interessante entre o passado glorioso e os desafios enfrentados pelas comunidades sefarditas no mundo moderno.

Outra seção importante do livro é dedicada aos mizrahim, judeus do Oriente Médio e Norte da África. O autor descreve como esses judeus, muitas vezes marginalizados no discurso eurocêntrico, preservaram tradições únicas em regiões como o Iêmen, Marrocos, Iraque e Irã. Ele discute as mudanças sofridas com a migração para Israel no século XX, evidenciando tanto o enriquecimento cultural trazido por essas comunidades quanto as tensões sociais e políticas que enfrentaram.

O judaísmo ortodoxo ocupa um espaço central na obra, com uma análise de suas origens, teologia e papel na preservação da Halachá (Lei Judaica). O autor explora o fenômeno da charedização, ou seja, a intensificação do rigor religioso em setores da ortodoxia, e as razões que levaram a essa transformação.

Movimentos e divisões internas também são discutidos, como os Mitnagdim e os hassidim. O autor dedica uma parte significativa ao hassidismo, um movimento místico e popular que surgiu no século XVIII sob a liderança do Baal Shem Tov. A narrativa inclui as principais dinastias hassídicas, como a Belz, Lubavitch e Satmar, apresentando suas características e diferenças.

Um destaque interessante é o relato sobre o movimento Neturei Karta, um grupo anti-sionista que rejeita o Estado de Israel com base em interpretações teológicas, oferecendo ao leitor uma visão mais complexa e plural do judaísmo ortodoxo.

O autor apresenta o judaísmo reformista como uma resposta às mudanças sociais e políticas que acompanharam a modernidade. Surgido na Europa do século XIX, esse movimento buscou adaptar a prática judaica ao mundo contemporâneo, rejeitando parte das leis tradicionais e enfatizando valores éticos universais. O papel das mulheres no judaísmo reformista, incluindo a ordenação de rabinas, é um tema que recebe destaque, demonstrando a busca por inclusão e igualdade.

O judaísmo conservador, por sua vez, é apresentado como um movimento intermediário entre a ortodoxia e o reformismo. O autor detalha a tentativa desse grupo de preservar a Halachá, mas com uma interpretação mais flexível e adaptada às mudanças sociais. Questões como o uso do hebraico nas orações e a importância da centralidade da Torá são exploradas com profundidade.

Além dos movimentos majoritários, o livro traz capítulos dedicados a grupos menores, como os reconstrucionistas e os karaitas. O judaísmo reconstrucionista, fundado por Mordecai Kaplan, é apresentado como um movimento que enfatiza o judaísmo como uma civilização em constante evolução, enquanto os karaitas são descritos como uma corrente que rejeita a tradição oral e segue apenas a Torá escrita.

Por fim, o autor explora a Cabala, a tradição mística do judaísmo. Ele discute suas origens, principais textos, como o Zohar, e sua influência em movimentos como o hassidismo. A descrição da Cabala como uma fonte de espiritualidade profunda e conexão com o divino traz um fechamento enriquecedor à obra.

O livro permite compreender a diversidade e complexidade do judaísmo através de uma análise equilibrada, abrangente e acessível das várias correntes, movimentos e seitas que compõem a história judaica. Ao longo do livro, ele não apenas apresenta os aspectos históricos e teológicos, mas também explora as tensões, os desafios e as transformações que moldaram a tradição judaica até os dias atuais, demonstrando as diversas formas de expressão do judaísmo, evidenciando sua característica múltipla de religião, cultura e civilização plural, que evolui e se adapta sem perder suas raízes milenares.


Por: Alberto Paulino de Mello Neto


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