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Resenha do livro "Judaísmo Acessível"

  • 1 de ago.
  • 3 min de leitura
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O livro chama atenção já nas primeiras páginas quando narra que a motivação por trás da obra é profundamente pessoal. A experiência do autor com cripto-judeus, como o jovem "João"; do norte do Brasil, que buscava validar sua identidade, ilustra a sede por pertencimento e conhecimento, missão que o rabino Jacques Cukierkorn se propõe a saciar. Ele não fala de uma torre de marfim teológica, mas de um lugar de encontro.


A estrutura da obra é cuidadosamente planejada, conduzindo o leitor pela mão através da impressionante linha do tempo do povo judeu, apresentada não como uma sucessão de datas, mas como um "milagre da história". Partindo dos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó, perpassa pela entrega da Torá no Sinai — o momento formativo da nação —, pelos períodos dos Reis, a divisão do reino e a destruição dos Templos. A narrativa evidencia como, após a Diáspora, o judaísmo sobreviveu e se reinventou "como uma cultura, não como uma civilização", graças à monumental obra intelectual dos rabinos que compilaram a Mishná e o Talmud.


O percurso histórico traça, ainda, a "idade de ouro" na Espanha sob domínio muçulmano, onde floresceram pensadores como Maimônides, assim como a tragédia da Inquisição e da Expulsão de 1492. Na sequência, a resiliência das comunidades na Europa medieval, o surgimento do misticismo Chassídico e, por fim, a catástrofe da Shoah e o subsequente nascimento do Estado de Israel.


A obra mapeia a diversidade do judaísmo contemporâneo. Na seção "Opções de vida judaica", é enfatizada a preferência ao termo "abordagens" a "movimentos" desfazendo hierarquias entre as expressões do judaísmo. O autor detalha com clareza as visões Ortodoxa, Reformista, Conservadora (Massorti) e Reconstrucionista, explicando como cada uma entende a Revelação, a Lei e a adaptação à modernidade. Essa abordagem comparativa é essencial para quem de fora vê o judaísmo como um bloco monolítico.


No cerne da fé, o livro desvenda as crenças e valores judaicos, explicando a estrutura do Tanach (a Bíblia Hebraica) e a centralidade da Lei (Halachá). O autor elucida a diferença crucial entre a Lei Escrita (Torá) e a Lei Oral (Talmud), e contextualiza os grandes códigos rabínicos. Particularmente, a obra traz a interessante discussão sobre os "Treze Princípios de Maimônides", que funcionam mais como um consenso do que como um dogma inflexível, diferentemente de outras tradições abraâmicas.


Em capítulo sobre a prática religiosa, explora-se o ciclo anual de festividades e o ciclo da vida. Ritos como o Brit Milá e o Bar/Bat Mitzvá, e as celebrações de Pêssach, Rosh Hashaná e Yom Kipur são explicados em sua dupla dimensão: histórica e espiritual. O autor esclarece conceitos frequentemente mal compreendidos, como a ideia de Teshuvá (retorno ou arrependimento), que se afasta da noção cristã de pecado original, enfatizando a capacidade humana de autocorreção.


Ao final, nas páginas que se seguem à seção sobre a conversão ("Judeus por Opção"), é feito um comparativo honesto com o Cristianismo, um guia de objetos rituais e um indispensável glossário de termos em hebraico e iídiche transformam "Judaísmo Acessível"; em uma ferramenta completa.


Dessa maneira, mais do que um simples apanhado de informações, a obra do Rabino Jacques Cukierkorn é um convite ao diálogo e ao entendimento. Com uma linguagem clara e uma excelente estrutura didática, é um recurso fundamental para qualquer pessoa que deseje compreender uma das mais resilientes e fascinantes tradições da humanidade.

 
 
 

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