A Beleza Imperfeita do Agora - Parashat Korach 5785
- Reginaldo Eugênio Ramos Teodoro
- há 13 horas
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Por Reginaldo Eugênio Ramos Teodoro (Moshe ben Gamliel)
A tristeza, discreta e insistente, é uma grande mestra da esperança. Quem já sentiu profundamente o cinza dos dias consegue perceber melhor a melodia das cores. Como Clarice disse tão bem: “Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.” Não dá para valorizar a leveza do sol sem ter sentido o peso frio e úmido da chuva - ou o frio. É nessa dança incerta entre alegria e tristeza, luz e sombra, que a gente aprende o que realmente significa existir. Final de semestre é lembrar das provas passadas e presentes.
O agora, esse momento tão escorregadio, denuncia sermos apenas passageiros numa viagem curta demais. Precisamos de coragem para estarmos presentes de verdade, porque no fim, este instante é tudo o que realmente temos. E quantas vezes não estamos presentes no presente? Como proclama o Salmo 90:12:
"Ensina-nos a contar nossos dias, para que alcancemos coração sábio."
Na Parashat Korach, vemos uma rebelião que nasce do ressentimento e da inveja. Korach e seus seguidores desafiam Moisés e Aarão, cegos pela ambição e pela vontade de poder – Nietzsche chama assim o impulso essencial do ser humano em buscar expansão, domínio... Korach, preso nessa armadilha interior, não percebe que sua luta exagerada por poder o destrói aos poucos. Quando veneramos nossa dor ou nosso desejo de controlar os outros, criamos um monstro que vive dentro de nós mesmos (auto-idolatria?).
Perdemos tanto tempo tentando ser perfeitos, esquecendo que a perfeição não existe – é uma ilusão que nos afasta daquilo que realmente importa: a imperfeição simples e poderosa do dia a dia, do amor real na imprecisão do real, na realidade da existência realista, do afeto vivido e não adiado.
Como diz Sêneca: "Enquanto adiamos a vida, ela passa." Como discute Slavoj Žižek, em "Evento" (recomendo muito): "Se fazes razões para amar alguém, isso não é amar." Adiar afeto é uma forma cruel e silenciosa de dizer adeus. Quando deixamos para depois o abraço apertado, as palavras doces ou mesmo um simples pedido de desculpas, estamos, na verdade, afastando lentamente quem mais amamos. Goethe já alertava, em "Os sofrimentos do jovem Werther": "Quando podemos seguir adiante, às vezes, mesmo contra o vento, chegamos mais longe." Assim como Hamlet, que lutava contra a incerteza do agir e do existir, precisamos romper com a paralisia das dúvidas interiores e seguir adiante mesmo quando não compreendemos completamente o sentido da nossa jornada — e, como lembra Søren Kierkegaard, "A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente." Gosto da visão de Kierkegaard; recomendo muito o livro Temor e Tremor.
Perder é parte inevitável da vida. Perderemos pais, avós, amigos, amores, dias preciosos que nunca mais voltam. A única resposta sensata a essa certeza é viver plenamente, sem hesitar, sem reservas, reconhecendo a sorte que é amar e ser amado, mesmo quando não saibamos direito o "como". E assim, ao acolher plenamente cada momento fugaz e imperfeito, retornamos à lição discreta e insistente da tristeza, lembrando que é exatamente na transitoriedade que aprendemos o valor insubstituível da esperança.
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