Por Reginaldo Eugênio Ramos Teodoro
Se a parashat anterior (Ki Tavo) deixava clara nossa responsabilidade pessoal com relação ao que devemos fazer, Nitzavim-Vayelekh nos rememora sobre a responsabilidade coletiva. Desde o início, a reunião de todo o povo, “de seus cabeças, anciãos, oficiais e até mesmo crianças e estrangeiros”, ressalta a ideia de que todos, independentemente de sua posição, têm um papel na Brit, formam uma unidade na comunidade, cada um sendo parte vital da saúde espiritual do coletivo.
O rabino Jonathan Sacks destaca que a “a verdadeira força de Israel não reside na força militar, mas na sua unidade como povo”. A parashat enfatiza que cada indivíduo é responsável por suas ações, que a escolha - entre vida e morte, benção e maldição - está diante de nós, de cada um, e que são consequências das escolhas que tomamos. Essa escolha não é, contudo, apenas pessoal, mas comunitária. Rav Kook ensina que “Cada pessoa é um universo, mas cada universo é parte de um todo [maior]”.
Somos lembrados, aqui, da nossa responsabilidade em criar ambientes positivos e de apoio ao nosso redor. Em Vayelekh, Mosheh reforça a transmissão da Torah às futuras gerações, ao transmitir a Yehoshua a liderança. Isto é um chamado a agirmos ativamente em prol de ensinar e preservar os valores, mas também nos envolvermos ativamente na educação de nossos filhos e na transmissão dessa mesma Torah “que não está longe, distante” (Devarim 30:11), mas próxima e acessível (vide Yeshayahu 55:6). A prática, a práxis judaica e a conexão com Deus não precisam n devem ser tarefas árduas, penosas ou distantes.
A espiritualidade está ao nosso alcance e nos cabe buscar ativamente pelos sinais óbvios dessa mesma conexão. Afinal, Deus jamais nos abandona ou abandonou, somos nós que, por vezes, não enxergamos bem. Maimônides dizia que “O caminho do homem é o seu próprio [caminho] a seguir”, querendo dizer que a Torah é de base acessível e cuja proximidade é convite indelével para que a espiritualidade seja parte de nossa vida quotidiana. Yechezkel (18:30) ressalta a responsabilidade pessoal, mas a individualidade e a coletividade não são mutuamente exclusivas, mas interligadas pela retidão (tzedek).
Essa retidão resplandece na educação, como em Mishlei 22:6: “Ensina a criança no caminho em que deve andar - e até quando envelhecer não se desviará dele”. Cada um de nós tem um papel vital na construção de uma comunidade forte e na perpetuação dos ensinamentos da Torah.
Que possamos nos unir em nossos esforços, assumindo a responsabilidade por nossas ações e inspirando as futuras gerações a manter viva a chama da espiritualidade e sabedoria. Ao fazermos isso, estamos não apenas cumprindo nossa parte na Brit (aliança), mas também moldando um futuro iluminado para todos.
A continuidade e o cumprimento dos valores das Escrituras garantem a preservação da sabedoria e o fortalecimento da espiritualidade nas futuras gerações.