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Princípios Judaicos de um Judaísmo Acessível


O que é Judaísmo Acessível?​​​​​​​​​​​


O conceito de Judaísmo Acessível propõe uma evolução da tradição e uma adaptação aos tempos modernos. Na realidade, o Judaísmo evoluiu sempre, especialmente com Maimônides – o Rambam –, o Iluminismo e o Renascimento Judaico. Sem ruptura e seguindo os princípios básicos da tradição, o Judaísmo buscou estar em acordo com a História do desenvolvimento humano. E, hoje, terá de continuar evoluindo, sobretudo porque deve levar em consideração os progressos da ciência contemporânea e da civilização. O princípio do Judaísmo Acessível observa que a Lei, cuja fé é de indubitável inspiração divina, tem sido expressa por meio de seres humanos. Em outras palavras, trata-se de uma expressão que, por si só, já é uma interpretação.

O Judaísmo Acessível objetiva a elevação ética e espiritual dos seres humanos. Para isso, fundamenta-se na compreensão das gerações que os precederam, progredindo na apreensão da palavra do Eterno em cada século. Uma vez que trazemos mudanças em nossas práticas, segundo a consciência moderna, a reinterpretação da sagrada herança que recebemos se inscreve na tradição que vivemos em cada século – de cada momento histórico. Assim, as diversas comunidades trazem consigo as mudanças e as justificam pelos versículos bíblicos e interpretações talmúdicas ou posteriores ao Talmud.


Nosso Lugar no Mundo

​O Judaísmo é uma tradição antiga, porém viva, cuja contribuição para a vida da humanidade tem sido indiscutivelmente imensa. Nossa civilização religiosa judaica tem sido moldada de diferentes formas. As propostas do Judaísmo Acessível são a nossa busca de respostas para as inquietantes questões contemporâneas. Com nossos ensinamentos, procuramos encontrar ideias para o enfrentamento dos desafios do mundo ocidental moderno. Este tipo de influência cruzada não constitui uma experiência inédita na história judaica. Constitui, na realidade, uma constante e, em cada uma das épocas da nossa história, garantiu a revitalização do Judaísmo. São muitos os aspectos da vida moderna que nos assustam e angustiam a todos: o menosprezo pela religião e pela tradição, ou a queda da importância de Adonai e a maior importância dada às conquistas individuais. Há, ainda, a fé cega na ciência e no conhecimento científico, aliada ao abuso da tecnologia como instrumento de tortura e destruição. Vivemos uma época de excessivo materialismo, de exploração ilimitada dos recursos humanos e naturais visando apenas o lucro e de elevação do autointeresse à categoria de principal determinante dos relacionamentos humanos.

​No entanto, há muitos aspectos altamente positivos da modernidade, cuja aceitação só nos trará benefícios: a possibilidade de maior erudição, a preocupação cada vez mais acentuada com os direitos humanos, a defesa dos direitos inalienáveis do indivíduo, a valorização do pluralismo cultural, o aprofundamento das percepções psicológicas e o progresso em múltiplas áreas da ciência e da tecnologia – enfim, de tudo que melhora a qualidade humana da vida.

Começamos, assim, a compreender que temos uma responsabilidade na preservação da qualidade de vida em nosso planeta e de aceitar a disciplina implícita à nossa condição de parceiros do Criador e guardiões de Sua Criação. Qualquer que seja nossa ambivalência, o presente está conosco e devemos reconhecer que ele constitui o nosso verdadeiro ponto de partida.

Vivendo no Mundo

Reconhecemos, portanto, que a modernidade trouxe ao mundo tanto coisas positivas como negativas. O Judaísmo acredita que é essencial viver no mundo adotando uma postura descrita como “desajuste criativo”. O encontro entre o Judaísmo e o mundo nem sempre se mostrou positivo para a vida judaica. Mas, ainda assim, nós, judeus progressistas, não acreditamos na possibilidade de realizar nossas obrigações como tal, e por completo, voltando as costas ao mundo e buscando a sobrevivência encastelados no isolamento. Valorizamos nossa diferença e nossa especificidade! Mas não desejamos preservá-las separando-nos da comunidade mais ampla.

Adonai, Israel e o Indivíduo

Adonai nos faz exigências. A comunidade também tem suas necessidades. Reconhecemos a autonomia do indivíduo bem como o direito e a inevitabilidade de que as pessoas respondam por si próprias. Uma grande parte da vida judaica contemporânea é representada, e vivida, pela tentativa de resolver a interação e as tensões existentes entre a devoção que temos por Adonai, a comunidade e seus ensinamentos, e o indivíduo.

A Verdade e o Pluralismo

Entendemos que a Verdade, que consideramos a realidade divina, o desejo divino para o mundo, é multifacetada. Esta concepção impõe uma certeza: a de que nenhuma expressão única do Judaísmo, ou de qualquer outra religião e fé, é capaz de abranger o mistério da energia criativa e da inteligência implícitas no universo.

Reconhecemos, portanto, que qualquer forma de religião é sempre, de certa forma, provisória. Não há uma única expressão do Judaísmo capaz de acomodar todos os judeus em todos os lugares e em todas as épocas. Compreendemos que o Judaísmo não possui o monopólio da Verdade. E que, além disso, esta pode ser encontrada em outras tradições religiosas, ou mesmo em ensinamentos e disciplinas, sem qualquer rótulo religioso formal. A busca religiosa pelo significado teceu uma enorme tapeçaria que contém fios de muitas cores.

Dúvida e Certeza

Constatamos que um nível expressivo de dúvida religiosa é endêmico ao pensamento e às sociedades modernas. Em contrapartida, a busca pelo significado religioso tem sido contínua, desde que Avraham e Sarah deram início a sua jornada. Esta ênfase na busca constitui um saudável antídoto para as certezas que muitas gerações passadas apregoaram ter em relação à Verdade e um corretivo para a praga do fanatismo e do fundamentalismo que distorcem o mundo religioso em nosso tempo.

Testemunhamos, também, que hoje muitos judeus estão muito menos seguros de sua crença em Adonai em relação às milenares gerações que os precederam. Muitos outros têm dificuldades na oração, ainda que se sintam confortados e apoiados pelo ato de orar em grupo. Tais dúvidas e ceticismos fazem parte da realidade judaica contemporânea. E é este o desafio que temos de aceitar – sobremaneira o que temos de enfrentar.

Começando com as pessoas onde elas estão

Nossa proposta de um Judaísmo Acessível tem preceitos sólidos e que serão apresentados ao longo deste texto. Mas há, também, um princípio operacional de firmeza equivalente. Começamos com as pessoas onde quer que elas se encontrem e trabalhamos em parceria com elas, encorajando-as a uma expressão mais plena e dinâmica de seu Judaísmo.

Tentamos incluir as pessoas. Reconhecemos que diferentes fatores afetam o caminho de vida trilhado por um indivíduo. Mas podemos, no mínimo, oferecer um “lar” judaico aos judeus que buscam a Verdade. Nossas experiências nos têm demonstrado que esses judeus trazem consigo talentos, percepções e benefícios que podem favorecer a todos.

Nuances de opinião

Cada indivíduo é único e expressa sua fé de forma singular. O Judaísmo jamais impôs uma crença rígida a seus seguidores e a sabedoria desta abordagem se torna ainda mais clara nos dias atuais. O Judaísmo em si, ou qualquer que seja a tradição religiosa, constitui uma “federação” de pontos de vista, um mundo rico em percepções e nuances.

Nosso compromisso é ouvir-nos uns aos outros com respeito, descartando qualquer visão seletiva ou limitada. Reconhecemos a necessidade de sermos, ao mesmo tempo, mais críticos em relação a nós mesmos e mais respeitosos em relação aos judeus de opiniões divergentes. Levamos a sério o mandamento de cuidar da própria alma e do bem-estar alheio – e não do próprio bem-estar ou da alma do outro.

Compromisso

Reafirmamos o conceito judaico da humanidade criada à imagem divina. Somos dotados de livre arbítrio, capazes de bondade sublime, mas capazes também das maldades mais terríveis, mortais, porém dotados de um senso de eternidade, capazes de estabelecer um relacionamento direto e pessoal com Adonai. Reforçamos o respeito judaico pelos ensinamentos que podem ser derivados da história humana – uma saga de progresso e derrotas, de triunfos e de tragédias, destinado, no entanto, a conduzir-nos a uma era em que todos adorarão um só Elohim e na qual o reinado da liberdade, da justiça, do amor e da paz será permanentemente estabelecido no mundo inteiro.


Capítulo do livro: Sha’ar HaYahadut – Portal do Judaísmo, que pode ser adquirido em nossa livraria.

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