Por: Dr. Reginaldo Eugênio Ramos Teodoro
No judaísmo, há uma profunda reverência pela vida humana e uma cautela constante em relação ao uso das palavras e ações que podem causar dano ou fomentar ódio. Essa visão é ancorada em princípios éticos e ensinamentos do Tanakh, que enfatizam a dignidade de cada pessoa e a importância de cultivar um coração bom (yetzer hatov) enquanto se refreia as inclinações negativas (yetzer hara).
A ética judaica é clara em sua rejeição à celebração da morte, mesmo quando se trata do maior inimigo ou do mais vil criminoso. Essa postura pode ser compreendida através do conceito de *lashon hara*, que se refere ao discurso maligno. O Talmud (Arachin 15b) destaca que lashon hara é uma transgressão grave, comparável ao assassinato, idolatria e imoralidade sexual. O mau uso das palavras pode destruir reputações, relacionamentos e até vidas.
Uma das passagens mais emblemáticas do Tanakh que ilustra essa perspectiva é a resposta de Deus à destruição dos egípcios no Mar Vermelho. Quando os anjos queriam cantar cânticos de louvor, Deus os repreendeu dizendo: "Minhas criações estão se afogando no mar, e vocês querem cantar?" (Talmud Megillah 10b). Este relato ensina que, mesmo quando inimigos são derrotados, a alegria pela destruição humana é inapropriada. Cada vida é preciosa e sua perda é lamentável, independentemente das circunstâncias.
A Torá nos guia com princípios éticos que nos convocam a tratar todos os seres humanos com dignidade. Em Provérbios 24:17-18, lemos: "Não te alegres quando teu inimigo cair, e não se regozije teu coração quando ele tropeçar; para que o Senhor não veja isso, e isso seja mau aos Seus olhos, e Ele desvie Dele a Sua ira." Este versículo reflete a noção de que o prazer na desgraça alheia é contrário aos valores divinos e à vontade de Deus.
O judaísmo também ensina a luta constante entre o yetzer hatov e o yetzer hara, as inclinações para o bem e para o mal. Em Deuteronômio 30:19, é dito: "Escolherás (no imperativo : você deve escolher), pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência." Este versículo é um chamado para escolher a vida e o bem em todas as suas formas, promovendo um coração bom e resistindo às tentações do mal.
Uma história talmúdica ilustra o ideal de superar o yetzer hara e buscar o yetzer hatov. Em Berachot 10a, encontramos a narrativa de Rabi Meir, que orava pela morte de seus inimigos. Sua esposa, Bruria, lhe ensinou que, em vez de orar pela morte dos pecadores, ele deveria orar para que eles se arrependessem. Esta lição sublinha que a transformação e a redenção são preferíveis à destruição.
Em resumo, o judaísmo nos convoca a evitar o discurso malicioso e a celebração da morte, refletindo um compromisso com a santidade da vida e a dignidade humana. Orientados pela Torá e pelos princípios éticos, buscamos cultivar um coração bom, guiado pelo yetzer hatov, que se manifesta através de palavras e ações que promovem o bem-estar de todos. Esta abordagem não apenas honra a divindade em cada ser humano, mas também nos aproxima da vontade de Deus, que é a verdadeira fonte de bondade e justiça no mundo.
Em Devarim 30:19, o verbo é tibḥar - escolher, decidir.
A conjugação completa do verbo תִּבְחַר (tibḥar) em hebraico para todos os tempos verbais seria a seguinte:
*Indicativo:*
- Presente:
- אֲנִי בָּחַרְתִּי (ani bacharti) - eu escolho
- אַתָּה בָּחַרְתָּ (ata bacharta) - tu escolhes (masculino)
- אַתְּ בָּחַרְתְּ (at bacharta) - tu escolhes (feminino)
- הוּא בָּחַר (hu bachar) - ele escolhe
- הִיא בָּחֲרָה (hi bachara) - ela escolhe
- אֲנַחְנוּ בָּחַרְנוּ (anachnu bacharnu) - nós escolhemos
- אַתֶּם בְּחַרְתֶּם (atem b'chartem) - vós escolheis (masculino)
- אַתֶּן בָּחַרְתֶּן (aten b'charten) - vós escolheis (feminino)
- הֵם בָּחֲרוּ (hem bacharu) - eles escolhem
- הֵן בָּחֲרוּ (hen bacharu) - elas escolhem
- Passado:
- אֲנִי בָּחַרְתִּי (ani bacharti) - eu escolhi
- אַתָּה בָּחַרְתָּ (ata bacharta) - tu escolheste (masculino)
- אַתְּ בָּחַרְתְּ (at bacharta) - tu escolheste (feminino)
- הוּא בָּחַר (hu bachar) - ele escolheu
- הִיא בָּחֲרָה (hi bachara) - ela escolheu
- אֲנַחְנוּ בָּחַרְנוּ (anachnu bacharnu) - nós escolhemos
- אַתֶּם בְּחַרְתֶּם (atem b'chartem) - vós escolhestes (masculino)
- אַתֶּן בָּחַרְתֶּן (aten b'charten) - vós escolhestes (feminino)
- הֵם בָּחֲרוּ (hem bacharu) - eles escolheram
- הֵן בָּחֲרוּ (hen bacharu) - elas escolheram
*Subjuntivo:*
- Presente:
- אֲנִי אֶבְחַר (ani evḥar) - que eu escolha
- אַתָּה תִּבְחָר (ata tivḥar) - que tu escolhas (masculino)
- אַתְּ תִּבְחְרִי (at tivḥri) - que tu escolhas (feminino)
- הוּא יִבְחַר (hu yivḥar) - que ele escolha
- הִיא תִּבְחַר (hi tivḥar) - que ela escolha
- אֲנַחְנוּ נִבְחַר (anachnu nivḥar) - que nós escolhamos
- אַתֶּם תִּבְחָרוּ (atem tivḥaru) - que vós escolhais (masculino)
- אַתֶּן תִּבְחַרְנָה (aten tivḥarna) - que vós escolhais (feminino)
- הֵם יִבְחְרוּ (hem yivḥeru) - que eles escolham
- הֵן יִבְחְרוּ (hen yivḥeru) - que elas escolham
*Imperativo:*
- Segunda pessoa singular:
- בָּחָר (bachar) - escolhe (masculino)
- בָּחְרִי (bachri) - escolhe (feminino)
- Segunda pessoa plural:
- בָּחְרוּ (bachru) - escolhei (masculino e misto)
- בָּחְרָה (bachra) - escolhei (feminino)
Por isso, inclusive, no Sidur, optamos por “escolherás” para enfatizar o imperativo da forma hebraica. Não apenas “escolha” ou “escolhe” que poderia passar a ideia da possibilidade, de uma avaliação subjetiva que não pressuponha o imperativo propriamente dito do texto hebraico.
Comments